Estou em Lisboa. Voltei para Lisboa, supostamente é uma
coisa temporária mas sabe-se lá o que o tempo me reserva. Ainda no domingo
estava eu descansada da vida quando me ligam a dizer que o meu avô (materno) teve
um AVC. E hoje estou em lisboa em casa da minha avó para ela não ficar sozinha.
Estou a tentar abstrair-me do som altissimo da televisão (a avó é surda), estou
a tentar relativizar que não tenho as minhas coisas nem os meus animais, estou
a minimizar o facto de não ter internet (escrito no word e só depois colocado
aqui). Estou por baixo do antigo quarto dos meus pais, da minha antiga casa.
Estou sentada na cama a tentar escrever o meu trabalho final da pós graduação e
oiço por cima de mim uma bébé a chorar (desejo que não chore durante à noite),
oiço passos desenfreados, oiço as motas na rua, oiço as minhas dores e penso no
meu avô sozinho no hospital sabe-se lá como. O coração aperta um bocadinho e
engolo em seco mesmo com a garganta inflamada e cheia de dores.
Estou em Lisboa sei lá por quanto tempo, deixei a minha
relação em pausa, deixei a ginástica que tinha começado à pouco tempo, deixei a
minha rotina, deixei o passado lá. É que as coisas mudaram, ainda não sei como
mas mudaram e dificilmente vão voltar a ser iguais.
Escrito dia 13/10/2015 as 21h48
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