sábado, 31 de outubro de 2020

O limite da teimosia

 Não sei se existe um limite da teimosia. Ás vezes pode ser difícil distinguir a persistência com teimosia mas outras vezes é muito fácil. Venho de uma família de teimosos, é genético. Sobrevivi a teimosia do meu avó, não sei se sobrevivo a teimosia da minha mãe. Eu também sou teimosa mas não tenho muita paciência para teimar, para mim é mais fácil ir logo buscar uma prova e dizer "VÊS" do que estar ali a teimar.


Para mim existe sim limites em como e com quem se teima.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Mudar de Casa # T2 Ep 2

 Durante a primeira vaga da pandemia de covid fiquei em casa 2 meses e deu-me oportunidade de refletir e concluí o que não queria, o que já não era mau. Consegui decidir que apesar de me assustar muito a ideia da mudança e da responsabilidade associada eu queria ir para mais perto da minha família. Quando a coisa começou a melhorar, reuni-me com a minha agente imobiliária e refizemos a minha lista de desejos para a casa, combinamos que também devido a situação, ela me enviaria as casas para eu ver e só visitaríamos as que eu gostasse muito. A coisa não aconteceu assim e as visitas começaram a ser demasiado frustrantes tanto para mim como para ela. Como estava a achar que ela não me percebia comecei a falar com outros agentes e basicamente tinha um por cada agência imobiliária (remax; century e era). Visitar casas tornou-se quase um desporto, chegou ao ponto da minha mãe achar que era boa ideia tornar-me eu agente imobiliária. Vi casas sozinha, vi casas com a minha avó, vi casas com a minha mãe e vi casas com todos eles ao mesmo tempo e sim era influenciada pelas suas expressões/opiniões. Comprar uma casa é demasiada responsabilidade para não considerar a opinião das pessoas que são importantes para mim. Já não tenho a certeza se foi a 25ª ou 26ª casa que vi, que a relação qualidade/preço era boa, o sitio parecia razoável tendo em conta que estava mais perto de Lisboa. Depois do "aval" da mãe e do pai decidi comprar. Num dia visitei a casa (2x) decidi comprar e no dia a seguir estava assinar o contrato compra e venda. Depois disso veio o horrível e desesperante processo burocrático. A sério pessoas, como é as pessoas compram casas? Só de pensar de ter de passar pela mesma cena outra vez dá-me vómitos. Foi uma altura de nervos e chatices que culminou na escritura. No dia antes não dormi e no dia mal consegui comer. A coisa foi rápida, depois de tanta burocracia até fiquei desiludida de ser tão rápido. O pior foi mesmo isso, tinha a escritura numa mão, as chaves na outra e não me sentia feliz. Sentia-me "então mas é só isto, depois de tudo o que passei"e claro que depois fui logo a casa nova ver o que me tinham deixado e mesmo assim continuava um vazio em mim. Estava a duvidar da minha escolha, estava a duvidar de tudo. Percebi que afinal não acabava ali, agora vinham reparações, mudanças...mais trabalho e mais chatice e eu já estava farta de tudo ser tão trabalhoso

sábado, 24 de outubro de 2020

O desafio de dizer bem

Não conheço a realidade de ser uma pessoa com uma ótima auto-estima e super confiante. Não sei o que é olhar sempre pelo lado positivo da coisa. Não sei o que é não duvidar de mim. Ando há muitos anos a trabalhar na minha auto-estima, é um trabalho diário e que não é nada fácil. Muitas vezes tenho recaídas e volto ao pior de mim. Orgulho-me do que já alcancei e de ter noção de como melhorei. Agora que começo a notar as diferenças vejo que ainda mais difícil de ganhar auto-estima é mantê-la. Então uma pessoa descobre um erro no trabalho que está assim desde sempre e nem um "Boa Milka" ou "Epa ainda bem que descobriste isto". A reação foi mais "Não fizeste tu mais que a tua obrigação". Eu não sei como funciona com vocês mas a minha auto-estima está, ainda, muito dependente de inputs exteriores e aí está um grande problema porque quando fazem alguma coisa mal é capaz de vir meio mundo esfregar na vossa cara mas fazem uma bem e nem uma palmadinha nas costas. Infelizmente cada vez mais somos criticados por tudo e se tive esperança que com o confinamento a coisa melhorasse, já está mais que provado que as pessoas se tornaram mais cruéis. Vivemos na moda da crítica, é o que sai primeiro antes de tentar perceber seja o que for. Como é que neste mundo alguém consegue ser confiante? como é que alguém acredita em si próprio e nas suas capacidades? Será que aqueles que têm boa auto-estima a conseguem porque metem todos os outros para baixo? Como nós tornamos mais equilibrados num mundo virado ao avesso?

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Post não recomendado a pessoas sensíveis

 Lembro-me exatamente do dia que o meu avô (pai da minha mãe) morreu e gostava de poder dizer coisas muito bonitas, sentimentais e cheias de amor mas vai-se a ver e este é o meu blog e quero escrever a verdade. 

Foi a minha primeira experiência com a morte de alguém próximo. Lembro-me de quando o meu pai ligou às 10h da manha de um domingo e me disse que o meu avô tinha morrido eu perguntei (depois de vários "estás a gozar comigo") então e agora? O primeiro impacto foi de choque, eu estava "normal" a ouvir, a responder, a agir como se tivesse tudo normal. Uns 30minutos depois já estava eu no carro veio a dor assim como se tivesse levado uma pancada, eu estava bem e no segundo a seguir já não estava. Recompôs-me rapidamente e quando cheguei ao pé da minha mãe já estava "bem".

Fiquei a perceber que é uma coisa muito mecânica, eu achei aquilo de uma rapidez alucinante. O meu avô morreu às 7h da manhã de domingo e as 15h da tarde desse mesmo dia, eu estava a vê-lo na casa mortuária. Foi rápido e simples. Percebi que o velório é para quem está vivo, apenas 2 pessoas foram despedir-se do meu avô mas todos foram cumprimentar a minha avó. A coisa foi tão rápida que muita gente não foi avisada e ainda bem, para mim já lá estava gente a mais. O meu avô já não precisava de ninguém, deviam tê-lo visitado quando estava vivo...ah e tal mas como disseste é para os vivos. Verdade, mas posso contar com os dedos de uma mão aqueles que apareceram lá e ofereceram ajuda. 

A morte do meu avó foi um alívio. Alivio para ele que há dois anos pedia para morrer, um alivio para nós família que não sabíamos lidar com a situação e um alivio para a minha avó que partilhava (talvez ainda existisse amor nem que fosse pelo passado) a casa com ele. Ao contrário do normal depois do meu avô morrer as pessoas disseram muito mal dele. Atenção, tenho plena noção que o meu avô não era nenhum santo e que tinha uma teimosia maior do que ele próprio mas custou-me muito, mais do que a morte dele em si, que as pessoas dissessem tão mal dele. Ouvi muita coisa que não sabia e que não ganhei nada em saber. 

Depois do meu avó morrer passámos a almoçar muito mais vezes fora, com vizinhos, em outras casas que não a dele. Isto era o que sempre quis...a minha família a conviver mas fazia-me confusão porquê só agora, o que mudou e perguntei várias vezes qual era a diferença. Após alguma insistência da minha parte, lá me responderam...a diferença era o meu avô. Com o meu avó tinha que ser quando ele queria, como ele queria, onde ele queria.

Pode não parecer mas eu adorava o meu avô, era e é uma referência para mim e tenho muitas saudades mas há muito tempo que não era ele, era o corpo dele a definhar e vai-se a ver gosto mais desta versão familiar, por isso ele que descanse em paz que nós cá estamos bem. 



segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Mudar de Casa # T2 Ep 1

 A ideia de mudar de casa começou a aparecer na minha cabeça pouco depois de terminar a minha relação de 8 anos. Esta ideia ia e voltava, comecei a procurar casas para alugar e desisti rapidamente quando me apercebi que alugar uma casa perto do trabalho me custaria mais de 80% do salário. Depois os pais decidiram mudar-se e tive com os ajudar na mudança e ainda tirar a minha morada, do fim do mundo, dos  documentos (sim, ainda não tinha alterado nada). Com a mudança dos pais ainda fazia mais sentido mudar-me mas tinha falado com o chefe e ele gostava de onde eu estava porque estava perto de muitos clientes e por isso deixei-me estar.

Passei lá um ano sem os pais ao pé e nada de especial aconteceu, só demorava mais tempo a ir visita-los. Como não fui assim tantas vezes aos clientes e tinha a família toda a pressionar para vir mais perto deles decidi voltar a procura de casa mas com calma, sem recorrer a agentes imobiliários, sem procurar muitos anúncios. Basicamente os conhecidos falavam de casas que sabiam que estavam a venda e fui empurrando a coisa assim uns tempos. Num almoço com os pais num centro comercial o pai decidiu entrar numa agência imobiliária e aí começámos a sério. Eu, cheia de medo sem saber se era a decisão acertada, estava ali à frente de um "especialista" à espera que eu lhe dissesse o que queria (isso queria eu saber). Disse-lhe o que não queria mas mesmo assim era uma lista muito curta.

Poucas semanas depois comecei a visitar casas e foi uma desilusão, juro-vos que me senti humilhada. Lembro-me que ao fim da primeira visita tinha uma data de coisas a acrescentar ao que não queria. Seguiram-se mais umas quantas visitas desapontantes e a agente imobiliária já começava a revelar algum desespero. A procura de casa tornou-se um hoobie de família, aos fins de semana íamos passear nas redondezas (da casa dos pais) e basicamente ligávamos para os anúncios das casas que gostávamos. Começou a ser demasiado para mim, tinha demasiadas pessoas a procurar uma coisa que eu não tinha a certeza que queria. 

Veio a pandemia e para mim foi a desculpa perfeita para fazer uma pausa na procura de casas, as visitas foram canceladas sem eu ter que dizer que afinal era melhor parar até EU saber o queria. 

sábado, 3 de outubro de 2020

As voltas que a vida não dá

 A última vez que escrevi aqui ainda mal se ouvia covid em Portugal, hoje não há um único dia que não se oiça essa palavra. O mundo mudou ( não necessariamente para melhor) e cada um está a lidar com as consequências da mudança que ainda agora começou. 

Os meus pais mudaram-se, eu mantive-me durante cerca de um ano perto do fim do mundo sem namorado, sem pais e sem amigos ( sendo eu uma solitária, não foi assim tão mau como parece). O meu avó paterno morreu muito antes do covid e foi a minha primeira experiência com velórios e afins ( a melhor coisa que posso dizer é que aquela gente trabalha depressa). Comecei a aprender um instrumento musical e desisti um ano e meio depois quando começou a ser muito difícil progredir (precisava de mais tempo e vontade para treinar). Arranjei namorado, foi através da internet e no início era simplesmente com o sentido de conhecer pessoas. Ele foi o primeiro que me encontrei pessoalmente e coisa descontraída dura quase a um ano. Pelo meio fomos apanhados pela pandemia, ainda não nos conhecíamos bem e tivemos separados praticamente dois meses. Eu estive em casa sozinha a trabalhar, durante dois meses saía apenas uma vez por semana para fazer compras. Trabalho ainda na mesma empresa e tenho a sorte de poder estar em tele-trabalho. Recentemente comprei uma casa (na loucura que está o mercado imobiliário) e mudei-me para um mundo novo, muito mais perto do trabalho e a menos de 10minutos dos pais e igualmente longe do namorado.

Apesar de muita coisa ter mudado ainda existem muitas que continuam iguais. Continuou pessimista e com baixa autoestima ( embora que já não pense tanto nisso), continuou com as mesmas dificuldades de socialização ( coisa que o covid só piorou), continuou a ser medíocre no trabalho e continuou a não saber bem o que quero de mim e da minha vida.