segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Post não recomendado a pessoas sensíveis

 Lembro-me exatamente do dia que o meu avô (pai da minha mãe) morreu e gostava de poder dizer coisas muito bonitas, sentimentais e cheias de amor mas vai-se a ver e este é o meu blog e quero escrever a verdade. 

Foi a minha primeira experiência com a morte de alguém próximo. Lembro-me de quando o meu pai ligou às 10h da manha de um domingo e me disse que o meu avô tinha morrido eu perguntei (depois de vários "estás a gozar comigo") então e agora? O primeiro impacto foi de choque, eu estava "normal" a ouvir, a responder, a agir como se tivesse tudo normal. Uns 30minutos depois já estava eu no carro veio a dor assim como se tivesse levado uma pancada, eu estava bem e no segundo a seguir já não estava. Recompôs-me rapidamente e quando cheguei ao pé da minha mãe já estava "bem".

Fiquei a perceber que é uma coisa muito mecânica, eu achei aquilo de uma rapidez alucinante. O meu avô morreu às 7h da manhã de domingo e as 15h da tarde desse mesmo dia, eu estava a vê-lo na casa mortuária. Foi rápido e simples. Percebi que o velório é para quem está vivo, apenas 2 pessoas foram despedir-se do meu avô mas todos foram cumprimentar a minha avó. A coisa foi tão rápida que muita gente não foi avisada e ainda bem, para mim já lá estava gente a mais. O meu avô já não precisava de ninguém, deviam tê-lo visitado quando estava vivo...ah e tal mas como disseste é para os vivos. Verdade, mas posso contar com os dedos de uma mão aqueles que apareceram lá e ofereceram ajuda. 

A morte do meu avó foi um alívio. Alivio para ele que há dois anos pedia para morrer, um alivio para nós família que não sabíamos lidar com a situação e um alivio para a minha avó que partilhava (talvez ainda existisse amor nem que fosse pelo passado) a casa com ele. Ao contrário do normal depois do meu avô morrer as pessoas disseram muito mal dele. Atenção, tenho plena noção que o meu avô não era nenhum santo e que tinha uma teimosia maior do que ele próprio mas custou-me muito, mais do que a morte dele em si, que as pessoas dissessem tão mal dele. Ouvi muita coisa que não sabia e que não ganhei nada em saber. 

Depois do meu avó morrer passámos a almoçar muito mais vezes fora, com vizinhos, em outras casas que não a dele. Isto era o que sempre quis...a minha família a conviver mas fazia-me confusão porquê só agora, o que mudou e perguntei várias vezes qual era a diferença. Após alguma insistência da minha parte, lá me responderam...a diferença era o meu avô. Com o meu avó tinha que ser quando ele queria, como ele queria, onde ele queria.

Pode não parecer mas eu adorava o meu avô, era e é uma referência para mim e tenho muitas saudades mas há muito tempo que não era ele, era o corpo dele a definhar e vai-se a ver gosto mais desta versão familiar, por isso ele que descanse em paz que nós cá estamos bem. 



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