domingo, 27 de março de 2016

Acumulação

O meu avô é um acumulador. As coisas são o que são e quando se tem um problema a que lidar com ele. Lembro-me de haver jornais por toda a casa, a "dica da semana" em pilhas debaixo da mesa, dos pacotes de leite com água para regar as plantas, das gavetas cheias de publicidade antiga e lápis sem carvão, de o ver a carregar coisas para perto dele e nunca para longe, dos bidons no quintal cheios de água, etc..... Em casa o problema via-se mas o pior era no quintal, o sítio dele. Pouco tempo depois de ficar doente e com a minha mãe a tentar organizar as coisas, começamos a limpar. Em casa a minha avó tirou algumas coisas e digo-vos que foi uma diferença enorme, mesmo assim uma mulher submissa que sempre viveu assim não mexe em metade das coisas, além disso habitou-se ao problema e mesmo ela é reticente em deitar coisas fora. O quintal, bem, o quintal está um verdadeiro pesadelo. Não temos condições para pagar a alguém para o fazer, trabalhamos e somos poucos por isso volta e meia vamos lá e tentamos limpar um pouco. Tentamos porque tira-se um balde e aparecem 3, tira-se uma tábua e aparecem 100. Além de se ser imenso lixo são coisas muito variadas, desde metal a adubos e restos de construção. Já contactamos a junta e a câmara mas não ajudam. A nossa sorte tem sido que tiramos as coisas para o quintal (estavam em barracas) e as pessoas vão levando. Telefonámos a imensa gente e cada um leva o que quer, chega para todos. Durante este processo que tem sido moroso, fomos dizendo ao meu avô o que estávamos a fazer, ele não se opôs mas volta e meia diz "não deitem fora a pá", " não deitem fora as telhas" e assim em diante...Sabemos que não é com 83 anos que ele vai começar a resolver este problema e por isso provavelmente se for capaz voltará a fazer o mesmo, acho até que se chegar a ver o que fizermos ficará chateado mas tem se ser e muito ainda temos para tirar afinal ele anda a acumular há mais de 40 anos. 

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